Vírgula [,] - quando usar, regras e exemplos

Flávia Neves
Flávia Neves
Professora de Português

A vírgula [,] é um sinal de pontuação que indica uma pequena pausa. É usada, principalmente, para separar elementos dentro de uma oração ou para separar orações. É também usada quando há enumerações, repetições, inversões e supressões numa frase.

O correto uso da vírgula causa muitas dúvidas, porque há situações em que o seu uso é obrigatório, outras em que é proibido e outras ainda em que é facultativo.

Confira algumas situações em que o uso da vírgula é obrigatório:

Uso da vírgula em enumerações e repetições

A vírgula separa termos enumerados ou repetidos, quando não há uma conjunção separando esses termos (e, ou, nem) e quando esses termos têm a mesma função sintática.

Enumeração:

  • Já compramos farinha, açúcar, ovos, leite, óleo e chocolate.
  • Dá última vez você levou um vestido, uma blusa, um casaco, uma bolsa e um colar.

Repetição:

  • Aquele comentário foi muito, muito, muito, muito desagradável.
  • Lindo, lindo, lindo serviço! Sim, senhor!

Uso da vírgula na separação e destaque de palavras

A vírgula separa e realça elementos com diferentes funções sintáticas. Isso acontece nas seguintes situações:

Indicação de circunstância no início ou meio da oração (adjunto adverbial):

  • De vez em quando, ele saía sozinho para dar umas voltas de carro.
  • Apenas pretendo, obviamente, que você seja feliz.

Expressões intercaladas na oração que indiquem explicação, continuação, conclusão, oposição:

  • Minha avó, por exemplo, faleceu com 103 anos.
  • A palavra sofre flexão em número, ou seja, em singular e plural.
  • O Sr. Luís, isto é, o porteiro do prédio, não deixou ninguém entrar.
  • O contrato, contudo, não estava de acordo com o prometido.
  • A resposta, porém, não tardou em chegar.
  • A verdade, portanto, era bem diferente do que ela tinha dito.
  • Veio ontem de manhã, aliás, ontem de tarde.

Sim e não como advérbios de resposta:

  • Não, estou quase chegando.
  • Sim, pode ser.

Aposto (explicação ou esclarecimento):

  • Inês, a melhor amiga do meu filho, dançou ballet na festa.
  • D. Nina, nossa mais antiga funcionária, será homenageada na festa.

Vocativo (chamamento):

  • Ricardo, você ainda demora muito?
  • Seja bem-vinda, Bruna, à nossa empresa!

O nome do lugar numa data:

  • Olinda, 31 de maio de 2016.
  • Florianópolis, 26 de fevereiro de 2021.

Uso da vírgula na separação de orações

A vírgula é usada para separar orações e também para intercalar uma oração dentro de outra.

Orações não ligadas por conjunções:

  • Os seres vivos nascem, crescem, reproduzem-se, morrem.
  • Acordou, abriu os olhos, olhou para o teto, continuou deitada.

Orações ligadas por conjunções sem ser a conjunção e (adversativas: mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto; conclusivas: portanto, por isso, logo, pois, então):

  • Ouça bem o que eu digo, pois eu não vou repetir!
  • Ele veio correndo da escola, porque queria chegar a casa antes da mãe.
  • Eu já estou morando no apartamento novo, mas ainda não terminei as mudanças.

Orações que introduzem explicações (subordinadas adjetivas explicativas):

  • O Rogério, que é um aluno muito distraído, apresentou a ideia mais original.
  • Este problema, que pareceu de fácil resolução, está tomando proporções enormes.

Orações que indicam uma circunstância quando estão antes da oração principal (subordinadas adverbiais antepostas):

  • Caso você venha a São Paulo, me ligue!
  • Já que está chovendo, ficamos em casa.
  • Mal chego a casa, meu cachorro vem correndo.
  • Embora esteja contrariado, cumprirei com o prometido.
  • Segundo o que o diretor disse, não serão autorizados novos envios.
  • Mesmo que você venha, você não poderá participar.

Orações adverbiais reduzidas do gerúndio, particípio e infinitivo:

  • Chovendo, cancelo nossos planos.
  • Ao sair de casa, vi o carro novo do meu pai.
  • Cumprida a sua promessa, poderemos esquecer esse assunto.

Orações intercaladas:

  • O mais importante agora, não me canso de repetir, é estar presente.
  • Eu preferia, já disse isso mil vezes, que a reunião fosse na próxima semana.

Leia também: Quando usar a vírgula antes de mas e a vírgula antes de ou?

Uso da vírgula em supressões e inversões

A vírgula é usada em supressões, marcando o lugar da palavra suprimida, que pode ser, por exemplo, um verbo.

A vírgula é usada também em inversões, separando termos que não estão na ordem direta da frase. Isso acontece, por exemplo, quando se põe um elemento da frase em destaque, aparecendo antes do verbo.

Supressão:
Eu segui letras; meu irmão, economia.
(A vírgula indica a supressão do verbo seguiu.)

Inversão:
O pavê de chocolate, ainda não o provei.
(O pavê de chocolate está em destaque na frase. A ordem direta seria: Ainda não provei o pavê de chocolate.)

Uso da vírgula antes do e

Embora pareça errado o uso da vírgula antes da conjunção e, é possível que esta ocorra nos seguintes casos:

Em orações com sujeitos distintos:
Eu cursei artes, e ela cursou medicina.

Na repetição da conjunção e para ênfase:
Eu me irritei, e reclamei, e gritei, e chorei, e esperneei, e não adiantou de nada!

Na transmissão de um valor diferente de uma adição:
Minha amiga estudou muito, e mesmo assim acabou repetindo de ano.

Leia também: Como usar a vírgula antes do e?

Quando não usar vírgula?

Há algumas situações em que o uso da vírgula é proibido, estando errado.

A vírgula nunca é utilizada entre os termos essenciais e os termos integrantes de uma oração. Não há vírgula…

entre o sujeito e o predicado (antes do verbo):
Certo: A Helena e a Paula estão cursando medicina.
Errado: A Helena e a Paula, estão cursando medicina.

entre o verbo e os seus objetos:
Certo: Todos os alunos estudaram matemática durante a tarde.
Errado: Todos os alunos estudaram, matemática durante a tarde.

entre o objeto direto e o objeto indireto:
Certo: Patrícia não queria emprestar a bicicleta ao irmão.
Errado: Patrícia não queria emprestar a bicicleta, ao irmão.

A vírgula também não deverá ser utilizada...

na indicação de uma circunstância está no fim da oração (adjunto adverbial):
Certo: Ele saía sozinho para dar umas voltas de carro de vez em quando.
Errado: Ele saía sozinho para dar umas voltas de carro, de vez em quando.
Certo: Vou para a praia com a minha avó.
Errado: Vou para a praia, com a minha avó.

nas orações introduzidas pela conjunção que, quando forem indispensáveis para a compreensão da frase (subordinadas adjetivas restritivas):
Certo: Todos os alunos que fizeram o trabalho compreenderam a matéria.
Errado: Todos os alunos, que fizeram o trabalho compreenderam a matéria.
Certo: A comida que a minha avó faz é a mais saborosa.
Errado: A comida, que a minha avó faz é a mais saborosa.

Quando o uso da vírgula é facultativo?

Há situações em que o uso da vírgula é facultativo, ou seja, a vírgula poderá ser usada ou não, estando as duas formas corretas. Isso acontece nas seguintes situações:

Na separação do adjunto adverbial, quando o adjunto adverbial é composto por apenas um advérbio:

  • Ontem, eles não foram à reunião da empresa. (certo)
  • Ontem eles não foram à reunião da empresa. (certo)

Na separação das conjunções no entanto, entretanto, por isso, porém, contudo, portanto e todavia, quando estão no início da frase:

  • Entretanto será necessário limpar o quarto de hóspedes. (certo)
  • Entretanto, será necessário limpar o quarto de hóspedes. (certo)

Na separação das conjunções ou…ou, quer…quer, seja…seja, nem…nem (conjunções alternativas):

  • Ou você faz isso agora ou você faz isso sozinha! (certo)
  • Ou você faz isso agora, ou você faz isso sozinha! (certo)
  • Quer ela fique quer ela venha, eu saio amanhã de manhã. (certo)
  • Quer ela fique, quer ela venha, eu saio amanhã de manhã. (certo)

Na separação de orações que indicam condições, se estiverem depois da oração principal (subordinadas adverbiais pospostas):

  • Cumprirei a minha promessa se ele cumprir a dele. (certo)
  • Cumprirei a minha promessa, se ele cumprir a dele. (certo)

Para aprender mais sobre este sinal de pontuação e sobre outros, veja também os sinais de pontuação.

Flávia Neves
Flávia Neves
Professora de português, revisora e lexicógrafa nascida no Rio de Janeiro e licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal (2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.

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