O conto é um texto narrativo curto de ficção que tem como principais características ser contado por um narrador, ter poucos personagens e apresentar um único conflito.
Sua estrutura é composta de uma introdução, desenvolvimento, clímax (o momento de maior tensão) e solução. O texto costuma apresentar os elementos essenciais de uma narrativa: personagem, narrador, espaço, tempo e enredo.
Geralmente, o conto é publicado em livros, mas sua presença também se estende a outros formatos, como blogs e revistas. Esse gênero textual tem diversos apreciadores hoje em dia, e um dos motivos é por ser conciso e "dizer muito" com poucas palavras ou páginas.
Existem vários tipos de conto, classificados de acordo com os temas que abordam: conto popular, conto psicológico, conto maravilhoso, conto de fadas, conto de terror, conto de mistério, conto de ficção científica, conto romântico, conto contemporâneo, conto infantil, entre outros. Veja alguns exemplos comentados.
Passara a manhã chovendo, e o Cancão todo molhado, sem poder voar, estava tristemente pousado à beira de uma estrada. Veio a raposa e levou-o na boca para os filhinhos. Mas o caminho era longo e o sol ardente. Mestre Cancão enxugou e começou a cuidar do meio de escapar à raposa. Passam perto de um povoado. Uns meninos que brincavam começam a dirigir desaforos à astuciosa caçadora. Vai o Cancão e fala: “Comadre raposa, isto é um desaforo! Eu se fosse você não aguentava! [...]”. A raposa abre a boca num impropério terrível contra a criançada. O Cancão voa, pousa triunfantemente num galho e ajuda a vaiá-la...
Conto A Raposa e o Cancão, reunido em coletânea de contos tradicionais do Brasil por Luís Câmara Cascudo.
O conto popular é um gênero textual transmitido de geração para geração, e, por isso, não costuma apresentar autor. Vem da tradição oral.
A família foi pouco a pouco chegando. [...] Tendo Zilda — a filha com quem a aniversariante morava — disposto cadeiras unidas ao longo das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com cara fechada aos de casa, aboletou-se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo sua posição de ultrajada. “Vim para não deixar de vir”, dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe, impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês. Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. [...]
E desde as duas horas a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa mesa vazia, tesa na sala silenciosa. De vez em quando consciente dos guardanapos coloridos. Olhando curiosa um ou outro balão estremecer aos carros que passavam. E de vez em quando aquela angústia muda: quando acompanhava, fascinada e impotente, o voo da mosca em torno do bolo. [...]
Trecho do conto Feliz Aniversário, de Clarice Lispector.
O conto psicológico foca mais nas reflexões das personagens do que em suas ações. Em "Feliz Aniversário", algumas passagens oferecem ao leitor um retrato íntimo e psicológico das personagens, enfatizando seus pensamentos e emoções.
Uma noite, há anos, acordei bruscamente e uma estranha pergunta explodiu de minha boca. De que cor eram os olhos de minha mãe? Atordoada custei reconhecer o quarto da nova casa em que estava morando e não conseguia me lembrar como havia chegado até ali. E a insistente pergunta, martelando, martelando... De que cor eram os olhos de minha mãe? Aquela indagação havia surgido há dias, há meses, posso dizer. Entre um afazer e outro, eu me pegava pensando de que cor seriam os olhos de minha mãe. E o que a princípio tinha sido um mero pensamento interrogativo, naquela noite se transformou em uma dolorosa pergunta carregada de um tom acusatório. Então, eu não sabia de que cor eram os olhos de minha mãe?
Trecho do conto Olhos d’água, de Conceição Evaristo.
O conto contemporâneo é um texto que leva o leitor a refletir sobre questões universais. A estrutura desse gênero é mais livre e aborda temas diversos.
A estrutura do conto contém os elementos do enredo, que é a sequência dos principais acontecimentos e ações na narrativa. Por isso, um bom planejamento da estrutura é essencial.
Tradicionalmente, o conto apresenta:
Mostra uma situação inicial, estável, que logo será afetada por um conflito. São apresentadas as personagens, o tempo e o lugar. A introdução tem a importante função de situar o leitor na história e despertar o seu interesse para continuar lendo.
É quando o conflito se desenvolve. Surgem problemas que colocam os personagens em situações novas que precisam ser resolvidas. Conforme a história avança, a tensão vai aumentando, mantendo o interesse do leitor.
É o momento de maior tensão na narrativa, quando o conflito atinge seu ponto mais intenso e não pode mais ser prolongado.
Contém a parte final da história, em que o conflito é resolvido e a ordem é restaurada. Há várias possibilidades para o final: feliz, surpreendente, trágico etc.
A forma como os elementos do conto são apresentados e conectados influencia a sua qualidade. Veja quais são eles.
É quem conta a história, definindo seu ponto de vista (foco narrativo). Não deve ser confundido com o autor. Os tipos de narrador são:
As personagens são os seres criados pelo autor que tomam parte nos eventos e realizam ações. Além das características físicas, o autor também precisa trabalhar seus aspectos psicológicos.
Em uma narrativa, há dois tipos de espaço: o espaço físico (espaço geográfico em que se passa a história) e o espaço interior (aspectos psicológicos e sociais das personagens).
O tempo está ligado à época em que a história acontece. Pode ser cronológico (ordem natural dos fatos) ou psicológico (determinado pela memória da personagem).
O enredo é a sequência dos acontecimentos e ações na narrativa. Ele é resultado da união dos elementos do conto. Quando o autor elabora a trama, deve permitir que o leitor vá construindo novos sentidos para aquilo que lê.
Outro aspecto importante para o conto é a verossimilhança. Ela representa a ligação harmônica entre os elementos da narrativa, de forma que sejam aceitos como verdadeiros dentro do mundo imaginário criado no conto.
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